#222 - Vice-presidente J.D. Vance rejeita publicamente a separação entre Igreja e Estado durante evento da Turning Point USA
Na quarta-feira, 29 de outubro de 2025, o vice-presidente J.D. Vance falou na University of Mississippi durante o primeiro evento no campus da Turning Point USA desde o assassinato de Charlie Kirk. Durante a sessão de perguntas e respostas, Vance falou sobre o que ele chamou de malentendido da frase “separação entre Igreja e Estado”. Ele afirmou que essas exatas palavras não aparecem na Constituição dos EUA.
Segundo J.D. Vance, a Constituição apenas impede o Congresso de criar uma religião nacional, mas não impede que estados individuais ou comunidades locais apoiem a religião ou tenham uma igreja oficial se escolherem fazê-lo. Aqui está uma parte do discurso do vice-presidente Vance:
“Quero garantir que todos nós estejamos alinhados, a Constituição Americana não diz ‘separação entre Igreja e Estado’, ela diz: ‘O Congresso não fará nenhuma lei com respeito ao estabelecimento de religião.’ Mas se você voltar à época da fundação, na verdade havia vários estados que formalmente reconheceram igrejas. Havia a Igreja Anglicana da Virgínia. Essa era a igreja oficial do estado da Virgínia. Maryland na época era a única colônia de maioria católica, ou pelo menos tinha uma representação católica significativa das 13 colônias originais. Há muita coisa aí.”
“O que eu acredito que aconteceu é que a Suprema Corte interpretou ‘O Congresso não fará nenhuma lei com respeito ao estabelecimento de religião’ para efetivamente expulsar a igreja de todo espaço público nos níveis federal, estadual e local. Acho que foi um erro terrível, e ainda estamos pagando as consequências disso hoje.”
• “Mas se você fosse desfazer isso, e se voltássemos a um sistema realmente pretendido pelos fundadores onde o Congresso não está criando uma religião oficial, mas as pessoas em suas comunidades locais podem meio que fazer o que quiserem, acho que esse seria um sistema melhor do que temos hoje. Mas acho que o princípio mais importante que temos que lembrar é: você não precisa expulsar completamente Deus da praça pública, que é o que fizemos na América moderna. Não é o que os fundadores queriam, não é bom para os Estados Unidos da América, e qualquer um que diga que é exigido pela Constituição está mentindo para você.”
Embora seja verdade que, quando a Cláusula de Estabelecimento da Primeira Emenda — “O Congresso não fará nenhuma lei com respeito ao estabelecimento de religião” — adotada em 1791, originalmente se aplicava somente ao governo federal e não aos estados; entretanto, o vice-presidente Vance deixou de fora um fato importante: após a Guerra Civil, foi adicionada a Fourteenth Amendment (Décima Quarta Emenda) à Constituição em 1868. Essa emenda assegurou que todos os cidadãos, inclusive ex-escravos, tivessem os mesmos direitos e proteções em cada estado do país. Também significou que as liberdades na Declaração de Direitos (Bill of Rights), como a regra contra estabelecer uma religião estatal, passaram a se aplicar aos governos estaduais e locais, além do governo federal. Perceba como a Décima Quarta Emenda coloca limites no que os estados podem fazer quando se trata de assuntos de liberdade religiosa:
“Nenhum Estado fará ou aplicará nenhuma lei que restrinja os privilégios ou imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos; nem nenhum Estado privará qualquer pessoa da vida, da liberdade ou da propriedade, sem o devido processo legal; nem negará a qualquer pessoa sob sua jurisdição a igual proteção das leis.” (Décima Quarta Emenda, Seção 1)
Desde então, todos os níveis de governo — federal, estadual e local — estão vinculados pela Cláusula de Estabelecimento. Esse princípio foi confirmado no caso da Everson v. Board of Education (1947), que decidiu que a Cláusula de Estabelecimento se aplica a leis estaduais e locais por meio da Décima Quarta Emenda. Isso significa que nem o governo federal nem qualquer governo estadual ou local pode estabelecer uma igreja oficial. Qualquer político ou grupo — incluindo J.D. Vance e Turning Point USA — que afirma que os estados podem criar sua própria religião oficial, à parte da Décima Quarta Emenda, está não apenas enganado quanto à Constituição, mas também promovendo uma ideia perigosa. Essa crença ameaça uma das liberdades mais importantes dos EUA: a separação entre Igreja e Estado.
De uma perspectiva profética, a ideia de que estados individuais poderiam impor a observância religiosa é exatamente o tipo de união entre igreja e estado prevista em Revelation 13. A “imagem da besta” representa a restauração do mesmo poder persecutório que uma vez buscou controlar a consciência por meio da união da religião e do governo civil. Quando o Estado começa a fazer cumprir as doutrinas ou observâncias da igreja — seja em nome da moralidade, da tradição ou do “nacionalismo cristão” — ele pisa em um caminho que a história mostrou repetidamente levar à opressão. Essa mesma linha de raciocínio foi usada no passado para justificar leis dominicais (Sunday laws) em muitos estados. Como resultado, muitos adventistas foram presos, multados ou até enviados para a prisão e forçados a trabalhar em gangues por recusarem trabalhar no sábado e optarem por trabalhar no domingo. A Ellen G. White deu o seguinte aviso sobre a união entre igreja e estado:
“A besta mencionada nesta mensagem, cujo culto é imposto pela besta de dois chifres, é a primeira, ou besta semelhante a leopardo, de Apocalipse 13 — o papado. A imagem da besta representa aquela forma de protestantismo apóstata que surgirá quando as igrejas protestantes buscarem o auxílio do poder civil para a imposição de seus dogmas.” (O Grande Conflito, p. 445)
A crescente alegação de que os estados têm o direito de estabelecer sua própria religião não é apenas constitucionalmente falsa — é perigosa. Tais ideias abrem a porta para o mesmo espírito que uma vez perseguiu dissidentes e forçou pessoas a agirem contra sua consciência em nome da moral pública.
Desde os encarceramentos por leis dominicais de fiéis guardadores do sábado no século XIX até a perseguição de fé minoritárias ao longo da história, o registro mostra que quando Igreja e Estado se unem, isso sempre leva à revivescência da tirania.
Abaixo o video com o trecho do discurso resposta de J. D. Vance: